sábado, 2 de novembro de 2013

Dilma repete mito petista de que dívida externa do país foi paga

Com o estímulo da campanha eleitoral precoce, a presidente Dilma Rousseff deu sobrevida ontem a um mito criado há cinco anos pela administração petista acerca do extermínio de um velho fantasma da esquerda: a dívida externa.

“Nós vencemos a inflação, estabilizamos as contas públicas, pagamos nossa dívida externa, saímos da supervisão do Fundo Monetário e emergimos, neste século, como uma das maiores economias do planeta”, discursou a presidente.
Da narrativa, são mais palpáveis as afirmações de que o país saiu da tutela do FMI (não exatamente da supervisão) e é uma das maiores economias do mundo (em tamanho, não em riqueza da população). Entre as demais, a mais extravagante diz respeito ao envidamento externo do país.
Segundo os dados mais atualizados do Banco Central, o Brasil deve US$ 310 bilhões a credores estrangeiros, montante US$ 53 bilhões maior que o contabilizado no início do mandato de Dilma. Do total, US$ 116 bilhões são devidos por governo federal, Estados, municípios e estatais (alta de US$ 12 bilhões sob Dilma).
A tese do suposto pagamento da dívida nasceu da transformação em propaganda política de um feito econômico de 2008: naquele ano, o volume das reservas em dólar do Banco Central ultrapassou o valor da dívida externa do país _no mês passado, elas chegaram a US$ 376 bilhões.
Como as reservas são aplicadas em bancos estrangeiros, aparecem na contabilidade como um crédito do governo e do país, superior ao valor do débito.
Daí a imaginar que dívida tenha sido paga são outros bilhões de dólares.
As reservas não servem apenas para pagar juros e amortizações aos credores; elas são necessárias para as importações, para as viagens ao exterior, para as remessas de lucros das multinacionais a suas matrizes.
As reservas também não foram obtidas sem custo: cada dólar foi comprado pelo BC com reais tomados emprestados no mercado local.
A melhora dos indicadores de endividamento externo do país custou o aumento da dívida interna do governo.
A dívida externa brasileira é relativamente muito menor hoje do que quando provocou um calote brasileiro nos anos 80.
De lá para cá, ela caiu do equivalente a 50% para 14% da renda anual do país.
Mas o cenário ficou menos confortável nos últimos anos.
Foi também em 2008 que o Brasil voltou a ter deficit nas suas transações de bens e serviços com o exterior _o que significa, na prática, recorrer à produção de outros países para satisfazer todo o investimento e o consumo nacionais.
O deficit acelerou o crescimento da dívida externa e ajudou a tornar o dólar mais caro neste ano. O ajuste, como é consenso entre os especialistas, ainda não terminou.

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